Drummond, na voz de Drummond
Oi leitores! Decidi compartilhar com vocês o poema ''JOSÉ'' de Carlos Drummond de Andrade. Eu A- MO esse poema. Já li mais de mil vezes (não é hipérbole), assisti milhares de vídeos e o melhor que encontrei é este que está no final do post.
Confiram!
JOSÉ
E agora, José? A festa acabou, a luz apagou, o povo sumiu, a noite esfriou, e agora, José? e agora, você? você que é sem nome, que zomba dos outros, você que faz versos, que ama protesta, e agora, José? Está sem mulher, está sem discurso, está sem carinho, já não pode beber, já não pode fumar, cuspir já não pode, a noite esfriou, o dia não veio, o bonde não veio, o riso não veio, não veio a utopia e tudo acabou e tudo fugiu e tudo mofou, e agora, José? E agora, José? Sua doce palavra, seu instante de febre, sua gula e jejum, sua biblioteca, sua lavra de ouro, seu terno de vidro, sua incoerência, seu ódio - e agora? Com a chave na mão quer abrir a porta, não existe porta; quer morrer no mar, mas o mar secou; quer ir para Minas, Minas não há mais. José, e agora? Se você gritasse, se você gemesse, se você tocasse a valsa vienense, se você dormisse, se você cansasse, se você morresse… Mas você não morre, você é duro, José! Sozinho no escuro qual bicho-do-mato, sem teogonia, sem parede nua para se encostar, sem cavalo preto que fuja a galope, você marcha, José! José, pra onde?
*ANÁLISE:
Intitula- se ''José'' o poema acima. Nele, o anterior sentido do mundo agora se projeta para fora e se concretiza num nome próprio, num nome comum, vulgar, o zé- ninguém, símbolo do José- todo- mundo. Com isso, cabe constatar que o caminho seguido por Drummond foi o eu, o sentindo do mundo, o mundo, e finalmente, o ser humano, esse José. Esse ser humano que, diante da realidade de um universo cada vez mais agressivo, é um campo de problemas, de lutas, de dúvidas, de impasses, como fica sugerido no poema.
E, enquanto vai sentindo o mundo e assumindo o drama extra- individual, embora retorne às alusões ao próprio passado, faz delas uma realidade sempre mais distante no plano emocional, afundada no passado extinto.
*VÍDEO:
Espero que tenham gostado e até o próximo post!